quinta-feira, 18 de julho de 2013

RetroComics:: A morte do Superman

Alô Galera, o blog HQG tem o orgulho de apresentar mais uma nova coluna o RetroComics, onde iremos abordar questões épicas (e outras nem tanto) das hq's.

[ por Rafael Nunes ]

Hoje em dia é normal alguém lembrar da famosa Morte do Superman como uma mera jogada de marketing da DC Comics, mas na época foi uma grande e inovadora ideia para o mundo dos quadrinhos. Uma história que mataria o personagem principal de uma editora não era somente algo considerado inviável, mas a DC sabia que deveria ocorrer de forma que acabasse chacoalhando a indústria e beneficiando a editora. O Superman é normalmente visto como alguém inspirador, um personagem que transcende os quadrinhos e acaba até impactando no mundo real, onde diversas pessoas cultuam o personagem e seu código moral - e o fato de matá-lo acabaria tendo um grande impacto, não importando como isso iria acontecer. No fim das contas a morte do Superman se tornou uma espécie de salvação (mesmo que temporária) para uma editora que acabou por tomar uma decisão desesperada, arriscada e corajosa em uma época de ‘vacas magras’. Na verdade esta foi a primeira de muitas medidas similares, como a quebra da coluna de Batman e a transformação do Lanterna Verde em um vilão.




Mas quanto a história em si? Vejamos o que podemos falar a respeito.
Lendo todas as edições que compõem o arco de histórias uma coisa chama a atenção: a fase da Supergirl (ou Supermoça como era chamada por aqui naquela época) estava bastante estranha. Ela faz diversas aparições ao longo da história e, pelo que se percebe, ela vive com uma versão de Lex Luthor com rabo-de-cavalo, cavanhaque e cabelos ruivos que a mantém em casa como uma espécie de cão de guarda alienígena. Quando ela finalmente entra na batalha (após ser autorizada pelo seu ‘dono’) tem o seu rosto acertado por um soco e vira uma meleca roxa. Hein!?


Mas vamos adiante. Apocalypse é uma invenção sem pé nem cabeça, um personagem que emerge do nada, nunca fala, e só quer destruir tudo o que surge em seu caminho. Em vez de um inimigo inteligente e tático, Apocalypse é como um bloco de pedra gigantesco que esmaga e destrói tudo o que vê, sem se importar com o qualquer tipo de consequência. Ele existe somente para destruir - ele é a definição daquilo que o Superman está sempre lutando. Apocalypse surge do que parece ser uma espécie de caixão metálico que estava enterrado no planeta Terra, e assim que emerge já surge detonando seres vivos (como um inocente passarinho). A Liga da Justiça (na época sendo pseudo-reformulada por Dan Jurgens após a fase Giffen-DeMatteis) é acionada para tentar conter a ameaça e o o resultado é catastrófico. Com uma mão nas costas (literalmente) o vilão desfigura Guy Gardner, deixa o Besouro Azul em coma, esmaga o restante da equipe e aplica um golpe no Gladiador Dourado que o arremessa a centenas de metros, e é aí que o Superman entra na batalha para uma luta que à primeira vista parece uma pancadaria descerebrada que se espalha por sete edições. Mas não se preocupe! Ainda teremos muito mais pancadaria descerebrada pela frente!


Em vez de fazer com que a batalha termine com um vencedor e um perdedor, os roteiristas da DC (composto por Roger Stern, Dan Jurgens, Louise Simonson, Jerry Ordway e mais alguns outros) resolveram explorar melhor o final.
Se o Superman iria morrer não mãos de um inimigo impiedoso e brutal, então que eles arregacem as mangas e causem uma certa destruição ao longo do caminho. E também ocorrem algumas coisas interessantes, como o fato do Superman, em determinado momento, ter de decidir entre salvar uma família e deixar Apocalypse escapar, ou pegar o monstro e deixar a família sofrer um destino terrível. O que é um dilema comum nas histórias do herói e com um final previsível, na época causou uma certa aflição no leitor, pois como sabia-se que o herói iria morrer, então acreditava-se que qualquer coisa seria possível de acontecer naquele arco de histórias.

Talvez, pelo fato de ser uma história imprevisível , em alguns momentos os escritores tiveram maior liberdade para lidar com certas situações, como a surra que a Liga da Justiça leva de Apocalypse, embora pareça ‘bobinha’ se comparada com o nível de violência das histórias atuais, na época a arte apresentada pode ser considerada bastante violenta.

Existem muitas sequencias ao longo da trama que demonstram doses de tensão e horror inesperados, com a aproximação do clímax, a luta vai ficando mais brutal. Existe uma sequência desenhada por Dan Jurgens em que o Besouro Azul e espancado pelo monstro e jogado ao céu. Em vez de cair nas mãos de Bloodwynd (hein!?) para ser salvo, Apocalypse destrói Bloodwynd antes que ele caia no chão. Então aparece uma página em que em somente três painéis vemos o Besouro Azul caindo silenciosamente e terrivelmente ferido. Esta sequência mostra o quanto os escritores estavam tentando vender a ideia de que ninguém estava a salvo durante o confronto e não havia esperança de salvação para o protagonista. Foi uma excelente aula de narrativa.

A edição final deixa um pouco a desejar neste aspecto, pois a DC resolveu fazê-la somente com painéis únicos, cheio das chamadas ‘splash pages’. O que acaba por diminuir muito o ritmo da batalha, e força o leitor a pular entre alguns momentos da trama de forma arbitrária. Algumas escolhas artísticas foram muito bem feitas - nós vemos o impacto dos golpes através da lente de Lois Lane - enquanto outros são mais complicados de serem compreendidos.

A Morte do Superman é muito mais divertida do que se espera, com algumas histórias paralelas sem muito sentido contrastando com narrativas simples e excelentes - principalmente a trama principal. Não é uma obra de arte intelectual que testa os ideais do Superman, e sim uma história onde um monstro gigantesco distribui porrada pra todo lado, incluindo o Superman antes de apanhar e acabar morrendo. Mas no fim das contas esta acaba se tornando uma história que tinha tudo para dar errado mas consegue se mostrar uma história coerente que a DC conseguiu planejar com cuidado.

acompanham o trabalho de Rafael Nunes
 transformerscomics.netbaudamarvel.comsuperscans.net

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