sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ciência nos quadrinhos:: O problema com os poderes do Flash…

[ por Francisco de Assis ]

No início de sua carreira como Flash, Wally West não era tão veloz quanto seu tio Barry Allen, sendo capaz “apenas” de quebrar a barreira do som, e não a da Luz, como seu tio.



 Embora fosse muito mais veloz quando usava a mascara de Kid Flash, essa limitação de poderes deu aos roteiristas a oportunidade de explorar melhor seu potencial. Durante a clássica fase roteirizada por Mark Waid, Wally conseguiu atingir novos limites, ganhando poderes ainda maiores que os de seus predecessores: agora, ele era capaz de não só alcançar a barreira da velocidade da luz, como ser ainda mais rápido que ela. Isso se deveria a descoberta da existência da força de aceleração, um campo de energia que seria responsável pela velocidade de todos os Flashes. Foi nessa fase que o herói aprendeu também a transferir energia cinética a outros objetos e pessoas, além de roubá-la se quisesse, tornando-se o Flash mais poderoso até então.

Mas como isso poderia funcionar? Em Física, velocidade (símbolo v) é a medida darapidez com a qual um corpo altera sua posição; a aceleração (símbolo: a) é a taxa de variação (ou derivada em função do tempo) de uma velocidade, enquanto a força (F) é aquilo que pode alterar (num mesmo referencial assumido inercial) o estado de repouso ou movimento de um corpo, ou ainda, deformá-lo. 

A definição de Força não pode ser desvinculada da Terceira Lei de Newton (aquela que fala sobre ação & reação) e é importante lembrar que uma força é detectada através de seus efeitos (por exemplo, a variação no módulo da velocidade de uma bola em estado inicial de repouso, ao ser chutada), uma alteração na direção e sentido do movimento do corpo (como a bola que acerta na trave durante sua tragetória) ou ainda na deformação no corpo em que é aplicada a força (no caso da bola, a deformação momentânea que sofre ao ser chutada). 


Já foi dito nas histórias em quadrinhos que Jay Garrick era o Flash que conseguiria alcançar a velocidade da luz mais rapidamente (sic), enquanto Barry Allen seria capaz de conservá-la por mais tempo (sic novamente). Quem, afinal, teria sido o Flash mais poderoso?Bem, acelerar até a velocidade da luz pode nos levar a dois caminhos: se essa aceleração for instantânea, trata-se mais de um caso de potência dos músculos das pernas do que mover as pernas em supervelocidade: ao correr, o herói empurra o solo para trás de si, formando um par de ação/reação forte o suficiente para arremessa-lo para frente cada vez mais rápido, até atingir a tal velocidade da luz. 

O maior problema nessa situação seria um escorregão: o que usar como ponto de apoio? E o que calçar? Como respirar a essa velocidade? E, não sei quanto a vocês, mas correr me dá uma fome danada. 

Mas, se a aceleração não for instantânea, então o herói deveria ter reflexos rápidos o suficiente para evitar um acidente terrível, como tropeçar em uma pedra? Se ele está acelerando até alcançar uma velocidade próxima (ou igual a) da luz, tropeçar significa entrar em órbita – é que existe uma coisa chamada velocidade de escape da Terra (velocidade que um foguete precisa alcançar para conseguir escapar da força de aceleração da gravidade da Terra). Aliás, e quanto aos tímpanos? O que acontece quando o personagem quebra a barreira do som, como seus ouvidos reagiriam ao estrondo? Sem falar no rastro de lixo que eles vão levando pelo caminho. 

Há o problema do suor na roupa também, mas e daí? Supervelocidade é um barato, quem liga para isso? Basta correr mais rápido que o cheiro e tudo bem…Vamos lembrar então dos adicionais necessários a um herói com o poder da supervelocidade: um nível alto de inteligência é aconselhável, não só porque precisa de reflexos rápidos o suficiente para evitar que morra espatifado contra uma parede, mas principalmente devido aos efeitos relativísticos do movimento, que já explicamos: se a gente fica enjoado só de andar em montanha russa, imagine então vislumbrar toda a paisagem achatada, devido a alterações na compressão do espaço?

E um campo de força ou “aura protetora” também seria bem útil (a menos que se queira que o herói vire churrasco, devido ao atrito com o ar!). Lembre-se que ao aplicarmos aqui as regras do nosso universo a um personagem de histórias em quadrinhos, não estamos querendo inviabilizar sua existência (o que de fato aconteceria), apenas sugerir aos leitores usarem sua imaginação em busca de soluções inteligentes para escapar de limitações que tornariam mais interessantes alguns roteiros de HQ.


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