Não quero fazer nenhum discurso moralista, não quero levantar a
bandeira da salvação do mundo. Mas eu gostaria de compartilhar um dos
meus objetivos de vida, que é, de forma positiva, fazer a diferença.
Enquanto algumas pessoas tecem debates acalorados sobre o reboot dos
personagens do Universo DC, poucos prestaram atenção em uma ótima
campanha lançada pela mesma, numa época em que boa parte da mídia tinha
seus olhos sobre ela. Além da divulgação em sua página oficial, uma
tarja foi estampada nas capas das revistas, chamando atenção dos
leitores para uma triste realidade, que não pode ser resolvida com
superpoderes, mas talvez amenizada através de pequenos ou grandes atos
de generosidade. “We can be heroes” – Nós podemos ser heróis – ,
tem como finalidade levantar fundos para ajudar crianças carentes da
África, com a venda de produtos licenciados e doações. O site http://www.wecanbeheroes.org/ (em inglês) tem todos detalhes de como contribuir para a campanha.
Outra excelente opção de uma Organização não governamental séria e sem fins lucrativos, é o Actionaide,
através do qual é possível apadrinhar uma criança da Guatemala ou
outros países pobres abrangidos pela mesma. O processo de apadrinhamento
é simples, pode ser feito por telefone ou pela página na internet http://www.actionaid.org.br/.
O site está todo em português e conta com o apoio de artistas como
Julia Lemmertz (embaixadora da Actionaid no Brasil) e Adriana Esteves,
por exemplo. Ao apadrinhar a criança, a pessoa assume o compromisso de
doar uma quantia mensal que vai ajudar a comunidade onde ela mora, e
recebe o acompanhamento dos resultados; a foto da criança ajudada, seu
histórico e desenvolvimento. Também é possível se corresponder com seu
“afilhado”, através da Actionaide, que faz a mediação de forma
responsável e visando proteger a integridade e a dignidade da criança.
Algumas pessoas pode pensar que é melhor ajudar crianças brasileiras
ao invés de estrangeiras… o que pode gerar grandes debates sociológicos,
mas para poupar-nos de grandes discursos que muitas vezes se mostram
infrutíferos, eu diria que, caso tenha o desejo de ajudar, procure
alguma instituição em sua cidade, investigue suas credenciais e comprove
se realmente ela faz um trabalho sério que de fato faça alguma
diferença.
Às vezes nos vemos em grandes dificuldades e nem sempre podemos
ajudar os outros de forma periódica, mas existem momentos que o simples
fato de se importar com o outro, pode ajudar a mostrar um caminho…
palavras de incentivo são de graça, e os ganhos vêm em mão dupla.
Falando por experiência própria, digo que o dia a dia me consome… a
rotina do trabalho, o estresse, as obrigações… e toda a carga negativa
que recebemos e assimilamos. Confesso que é uma luta ferrenha e diária…
não me tornar aquilo que me consome. Não exercer nos outros o mesmo mal
ao qual as vezes sou submetido, e ao contrário, ser uma referência boa…
ou, se não conseguir isso, ao menos manter neutralidade… e preservar
minha saúde mental e espiritual. E com muito custo, chegar em casa leve,
sem a bagagem pesada do dia que passou… se possível, até mesmo com a
benção do esquecimento. Abandonar completamente todo o ressentimento…
que é a tortura auto imposta de sentir novamente toda a carga negativa,
de novo, de novo, de novo… até que ela fique entranhada em mim de modo a
adquirir tentáculos mentais que me sufoquem e me levem de volta a essa
estrada errada…
É um árduo caminho esse, do autoconhecimento.
Então, ao me livrar desse peso, descubro em mim essa pessoa que não
quer ser uma engrenagem na fábrica do sistema… nem um androide
programado para produzir e cumprir metas indiscriminadamente, esquecendo
os valores que realmente importam.
É nesse ponto que surgem as novas possibilidades. Ajudar alguém em
necessidade, abre um espaço imenso dentro do peito, mas por maior que
seja, não consegue abrigar toda a satisfação e o contentamento ao ver o
resultado positivo causado em outro ser humano… esse sentimento preenche
a alma, regenera as feridas e faz todos os problemas do dia a dia, com
seus tentáculos e dentes afiados, tornarem-se insignificantes… o que
eles na verdade sempre foram, mas eu não sabia disso, porque não podia
enxergá-los com clareza.
Pequenas palavras gentis estão se tornando raras, pequenos gestos de cortesia estão desaparecendo como fumaça. Uma palavra mal dita pode lançar uma pessoa em uma escuridão pessoal difícil de curar. Por outro lado, expressar preocupação através de palavras bem ditas,
reanima e concede um novo fôlego… e há ainda certos casos em que o
silêncio vale mais. É o respeito pela individualidade e o espaço alheio.
Existe um consenso quase unânime de que é preciso ganhar dinheiro e
juntar riquezas para ser feliz. Esse conceito é constantemente negado,
mas na prática, é o que as pessoas buscam. Mas não me entendam mal, o
dinheiro é importante e muito bem vindo… mas é preciso saber uma coisa:
pelo que estamos lutando, todos os dias? Ter dinheiro? Ou sermos
felizes?
Existe uma diferença imensa entre essas duas coisas.
E não digo isso com hipocrisia; não estou sugerindo ninguém a fazer
votos de pobreza. Só tenham em mente o que é prioridade. Frejat explicou
isso majestosamente com sua música Amor pra Recomeçar:
Desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver
também, mas que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono
de quem.
Muitas vezes gastamos nosso dinheiro com coisas fúteis… o que é um
direito totalmente nosso, não há nada errado em usufruir do esforço do
nosso trabalho… mas existe algo que é difícil de explicar… um sentimento
de satisfação ao ver o rosto de um criança recebendo o tratamento digno
que merece… recebendo amor em vez de indiferença. E isso é algo real,
não um jogo, um personagem virtual ou de quadrinhos… é uma pessoa de
verdade, com um passado, uma história, e com um futuro inteiro pela
frente. Que grandes feitos essa pessoa pode realizar, tendo a
oportunidade certa?
Não aconselho ninguém a fazer nada que não seja genuinamente
espontâneo. Não existe um motivo claro e definido do porque uma pessoa
deliberadamente se doa ao ponto de ajudar alguém sem receber nada em
troca… mas seja lá de onde vem esse sentimento, a sua fonte traz o mais
puro dos bálsamos, e nunca seca.
É fonte da qual bebem todos os heróis.
Não importa sua religião, etnia, orientação sexual ou se é fã ou não
de quadrinhos… você pode ser um herói para alguém. Pode salvar o mundo
de uma pessoa. Esse é um poder que todos nós temos.
Então, fica a dica. Seja um herói para alguém. Mude uma vida pra melhor ainda hoje.
Ainda que seja a sua própria.
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