Salve, salve Amigos!
Meu nome é Vagner
Abreu, alguns devem me conhecer pelo trabalho realizado no blog Dínamo Stúdio,
onde sou colunista junto com àquelas feras da blogosfera fã de gibi. Assim como
eles também sou fã de quadrinhos e trabalho como repórter na cidade em que
moro.
Vagner e Gelson |
Para inaugurar meus
trabalhos para a Liga – me senti um aspirante a Superamigo agora – entrevistei Gelson Weschenfelder (UFA!
Acertei o nome!) e irei transcrever o bate papo com o “filósofo dos quadrinhos”
na integra à vocês. Mas, antes começar, aquilo que muitos deveriam saber:
Gelson é graduado em
Filosofia e Mestre em
educação. Ele dá aula na Escola Técnica Estadual Portão (na
cidade de Portão) e recentemente foi homenageado pelos alunos e pelas equipes
de gincana do município por trabalhar levando os quadrinhos para a sala de
aula. Tantas homenagens fizeram o professor aparecer na mídia local, em jornais
dos município da região metropolitana de Porto Alegre e na própria “Zero Hora”,
o tabloide mais popular do Rio Grande do Sul. Além disso, nosso entrevistado
também apareceu na TV local.
Gelson Weschenfelder com o prêmio livro do ano 2012 |
Autor do livro
“Filosofando com Super-Heróis” que rendeu ao filósofo o título de Livro do Ano
na categoria não-ficção da Associação Gaúcha de Escritores (Ages). Bem, isso
tudo é muito importante, porém, para essa entrevista eu não procurei falar com
Gelson Filósofo-Professor, mas com o Gelson fã de quadrinhos. Confiram e
aproveitem:
Liga Comics: Você
sempre gostou de quadrinhos? O pequeno Gelson já lia HQs?
Gelson Weschenfelder:
Sim, aprendi a ler com quatro anos por causa dos quadrinhos. Convivia com
primos mais velhos e estes consumiam muitos gibis, me incentivando a entender o
que tinha naqueles balõezinhos.
LC: Quais quadrinhos você lia nessa época?
Gelson: Homem
Aranha e Vingadores. Era na época do gibi formatinho: “Heróis da TV”, “Super
Amigos”. Após vieram os títulos dos heróis. Então, lia Homem Aranha, X-men e
Vingadores. Depois comecei a ler a DC Comics: Batman, Arqueiro, Laterna
e Superman.
LC: O que você acha do formatinho? Você é um dos fãs
clássicos que adora os formatinhos como uma memória das HQs nacionais?
Gelson: Sou
colecionador e adoro os formatinhos. Me levam a um lugar em minha história,
onde tudo era mágico. Porém, com o tempo, fui curtindo a versão americana.
LC: É mesmo, depois de ter lido o formato americano? Você
consegue voltar e ler formatinho?
Gelson: Mais fácil
de guardar e manusear. Leio muito. Sou frequentador de sebos, procuro sempre por
aquelas histórias clássicas. Adoro ler qualquer forma de quadrinho (risos). Fã
é Fã.
LC:
O que você está lendo atualmente?
Gelson:
Estou lendo os “Novos 52”
na DC; na Marvel estou lendo a saga “Essência do Medo”. Mas somente os livros.
Fora que eu adoro ler as sagas históricas.
LC:
E o que você acha dessa reformulação dos Supers feita pela DC Comics?
Gelson:
Algumas estou adorando os desenhos e os roteiros, que estão ótimos. Outras
me decepcionaram. Principalmente a do meu herói favorito da DC: O Arqueiro
Verde.
Estou
adorando a Liga da Justiça, Batman, Action Comics e Mulher Maravilha.
Aquaman também, este herói voltou com tudo!
Os Novos 52 |
LC:
Por que não está gostando das histórias do Arqueiro?
Gelson:
Mudou muito. Não tem mais aquela coisa de superação que sempre tinha, trocaram
o uniforme e o jeito do Oliver Queen se portar. Não vejo ele tão ativista e
preocupado com questões sociais que eram o ponto onde me apegava no personagem.
Sem falar que o cara tem uma equipe por trás dele para criar seus apetrechos.
LC:
Bom, então o Oliver Queen vingativo da série “Arrow” também não lhe atrai?
Gelson:
Pelo contrário, estou adorando a série. Remete a clássica HQ Caçadores.
Muito boa, sem falar que, segundo os roteiristas, ele se tornará um ativista, a
partir do sexto episódio, para auxiliar a cidade onde mora e ser diferente do
pai. Spoiler! (risos)
Serie Arrow |
LC:
~Obrigado pelo spoiler~ Ah, aliás, a
mudança de uniformes nos Super-heróis da DC têm causado polêmicas entre os fãs.
O que você acha das mudanças de vestimentas?
Gelson:Tirando
a roupa do Arqueiro, gostei do resto. Achei muito “tri” a do Superman, que
causou mais polêmica. Pareceu mais alienígena do que aquela que parecia com a
roupa de um artista de circo.
LC:
Você achou importante mudar? Acha que o uniforme antigo será esquecido?
Gelson:
Achei as mudanças necessárias. Se olhar, desde o surgimento do Superman, várias
mudanças houveram. Lógico que está última ficou por mais tempo. Por isso a
polêmica.
LC:
Nas HQs, quais os temas que mais lhe fascinam?
Gelson:
Curto muito histórias que discutam questões sociais (descriminação, gênero,
ética). Porém, adoro as questões mitológicas inseridas nas HQs do Thor e da Wonder
Woman.
LC:
Qual a saga (tanto faz se for da Marvel ou da DC) que mais trouxe questões sociais
à tona? Cite as suas preferidas.
Gelson:
Nossa, foram várias! Mas Batman - Guerra ao Crime e Superman - Paz na
Terra era puramente isso. Depois haviam questões políticas na Guerra
Civil da Marvel.
As
questões sociais referenciadas nas histórias do Laterna e do Arqueiro Verde
foram bárbaras!
LC:
Você diz àquela saga do anos 60? Em que eles viajavam pelos Estados Unidos
resolvendo os problemas das pessoas?
Gelson:
Era de 60 e 70. Quando Arqueiro, que é um ativista social, discute tais
questões com o Lanterna. A saga trata de preconceito, sociedade de classes,
drogas, criminalidade e poder político. Adoro essas histórias.
LC:
Naquela época, histórias desse tipo não eram abordadas pelos gibis. Dá para se
dizer que foi uma revolução?
Gelson:
Com certeza. Foi uma inovação nos roteiros. Trazer para o público jovem
questões sociais, muitas vezes, escondidas ou recheadas de tabu. Como o tema
sobre as drogas.
LC:
O que você acha daquela parte em que o Ricardito – o ajudante do Arqueiro Verde
– aparece usando drogas pesadas?
Gelson:
Ali vem mostrar o quanto a sociedade é frágil, podendo haver problemas abaixo
do seu nariz. E também ali mostra um discurso quase moralista de só apontar os
erros e não perceber o que acontece com os entes queridos a sua volta. Outra
questão é, mostrar que as drogas entram em qualquer sociedade de classes. Pode
até atingir um herói. Nenhuma sociedade estava salva diante dessa epidemia.
Dizer que isso nunca irá acontecer com meus entes era algo normal na época.
Coisa que ainda hoje escutamos por aqui, no Rio Grande do Sul.
LC:
Essa pergunta julgo interessante a se fazer para um filósofo. De que lado você
estava na Guerra Civil? Por quê?
Gelson:
(Risos) Complicado. Se estiver contra o registro, você está contra a lei.
Porém, estando a favor, estaria ferindo os direitos civis de escolha e
autonomia. Complicado. (risos).
Bom,
acho que escolheria o lado contra o registro – o lado do Capitão América -
acredito que muitos escolheriam, este lado.
Mesmo
sendo a lei, ela agride o direito de liberdade. Não é porque é lei que você não
deve lutar contra. Lógico, mostrando o porquê desta estar errada.
Saga Guerra Civil |
LC:
Imagino que para você, esta saga tenha sido fantástica.
Gelson:
Com certeza. Está recheada de questões filosóficas e políticas.
LC:
Você acompanhou na íntegra (lendo todos os títulos dos heróis que saía pela
Panini) ou leu apenas as edições especias com o título “Guerra Civil”?
Gelson:
Lia semanalmente, acompanhando nas bancas na época. Porém, estou atrás da
Edição Histórica que a Panini lançou ano passado. Ou no início desse
ano.
A
Guerra atingiu todo o universo Marvel.
LC:
Você gosta dessas séries grandes que se emendam em outras séries?
Gelson:
Com Guerra Civil deu certo. Porém, a Marvel tem esse costume de criar
grandes séries que se ligam em
outras. A DC começou depois. Não sou muito fã, não!
Principalmente por questões financeiras (risos). Tipo, sagas como a Guerra
Civil valeu a pena cada “din din” gasto. (risos)
LC:
Entre as duas editoras, tem alguma delas que é a tua preferida?
Gelson:
Sempre curti mais a Marvel. Porém, por questões de pesquisa, a DC é mais
filosófica. A Marvel trata mais de temas sociais.
LC:
Então a Marvel tinha os heróis que você mais gostava?
Gelson:
Curtia mais a Marvel pois tinha mais animações e seus heróis estavam em tudo
que era lugar. Quanto aos personagens, o Homem Aranha e as questões de bullying
tratadas nas aventuras do herói; O preconceito visto em X-men; Ironman e suas
histórias sobre lutas de classes. E como dito, adoro o Thor.
LC:
Como morador de Montenegro, é fácil comprar gibi no interior?
Gelson:
Felizmente, sempre foi. Aqui o consumo é grande, porém, sempre demora uma
semana a mais do que Porto Alegre. Eu sempre deixo reservado com o dono da
banca. Do contrário, não consigo pegar as que estou acompanhando. Há uma nova
leva de leitores jovens que estão consumindo muito quadrinho. A banca que há
aqui, traz de 20 a
30 títulos. E vai quase tudo, sempre.
LC:
Conte um pouco sobre a históia da Liga Comics...Como surgiu a ideia de montar
um fan-clube?
Gelson:
Havia um grupo que bolou uma sala temática em um evento de anime. Fui convidado
a conhecer, por pesquisar quadrinhos. Logo, recebi o convite a participar e
aceitei a proposta. Rapidamente o grupo se modificou ficando com a cara que a Liga
Comics tem hoje. Começamos a trazer coleções, action figures, HQs e
itens de colecionadores e a propor debates sobre temas dos quadrinhos.
Organizar rifas com sorteio de action figures. Criar comunidade e perfil
no Orkut. E logo fomos convidados a participar de debates, palestras,
lançamentos de filmes.
A Galera da Liga Comics |
Quando
vimos, as escolas começaram a nos convidar. E hoje, feiras de livros, etc. Temos
pessoas do Brasil inteiro trocando ideias conosco, temos um blog e planos
maiores. O grupo ficou grande, mas logo depois enxutou. Muitos nos procuram para saber nosso parecer sobre determinadas questões
sobre o universo dos Comics.
LC:
Você acha que as pessoas ainda encaram os quadrinhos com olhares
preconceituosos? O leitor de gibi ainda é um “crianção” ou um “marmanjão” aos
olhos da maioria das pessoas?
Gelson:
Ah, ainda sim! Vejo aqui quando compro um quadrinho. Sempre tem aquele que olha
estranho para mim. Já teve uma vez, um que perguntou se estava levando para meu
filho (risos). Muitas das feiras onde vou, direcionam o público infantil para
trabalhar comigo. Isso só mostra que muitos pensam que quadrinho é coisa de
criança. Mas isso está mudando.
LC:
Isso acontece mais no Rio Grande do Sul ou em outros estados?
Gelson:
Aqui vi muito disso. Mas há notícias que no nordeste também há esse tipo de
preconceito.
LC:
Você acha que o cinema possibilitou essa mudança?
Gelson:
Com certeza. Pois os filmes mostram questões adultas e não infantis.
LC:
Qual o seu roteirista e desenhista preferido?
Gelson:
Alex Ross sem dúvida. E o nosso Daniel HDR, curto muito o trabalho desse
gaúcho. Em roteirista, Alan Moore está no topo. Bah! Não posso me esquecer de
Neal Adams e do O'Neil (risos).
Arte de Alex Ross |
LC:
Algum escritor preferido?
Gelson:
Hoje estou lendo muita filosofia por questões de pesquisa. Mas adoro ler
poesia. Gosto de Mário Quintana e da J.K. Rowling.
LC:
E para encerrar esse bate papo mega divertido, cite alguns dos gibis que estão
na sua estante ou na sua coleção que são o seu orgulho (por ordem de
importância):
Gelson: Bah! Action
Comics #1 (versão em inglês), Superman #14 (de 1948), Wolverine:
Origem, Arqueiro Verde Ano Um, Watchmen e Batman –
Cavaleiro das Trevas. Esses são os meus tesouros, porém, tem muita coisa
que não sai daqui de casa (risos).
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